história com motor de dois tempos

            

    Sem vitimização. Mas foi ficando cada vez mais difícil encarar a sério uma carreira literária como primeira opção. Primeiro, lógico, porque viver de literatura no Brasil é exceção, jamais regra. E a regra é pagar as contas o que o jornalismo e a televisão até há pouco faziam por mim. Agora, nem isso. Mas esse é outro ouriço.
       Publiquei pouco, irregularmente, sem frequência, sem saber fazer agito ou badalo, sem puxar saco de resenhadores, curadores e que tais.Outro ponto é que eu tenho consciência do meu tamanho modesto nesse nicho literário. Ao menos isso num deserto onde tantos se acham a última maizena do pacote.
     Isso posto publiquei pouco por editoras grandes e pequenas, incandescentes ou amenas. Lidei com gente do ramo e com meros curiosos. Não tenho rancor de ninguém porque acho que meu desalento com esse mercado tem a ver é comigo mesmo. Me deram muito mais atenção quando era divulgador de literatura - escrevendo e fazendo programas de tv sobre o tema - do que quando fui escritor. E eu próprio me comportei sempre como um amador.
       Feita a mea culpa digo , a quem interessar possa, que jamais parei de escrever mas parei faz tempo de publicar ou cogitar publicar. Mercado cheio, inflacionado, que releva falsos brilhantes e deixa passarem batidos os interessantes e eu nem estou falando de mim.Sendo assim lhes digo. Se o baú literário está cheio de inéditos aos 60 anos digo que o saco foi pelo mesmo caminho.Cheíssimo. Escrevo porque preciso , apenas. Lembrando mais uma vez de um mote do Leminski de tantos caprichos e poucos relaxos...
        Isso posto , à guisa de prova de que digo a verdade, lhes remeto apenas o introito de um romance inédito escrito em duas etapas. Tenho mais medo das caras de desapreço  do que dos tapas. É um romance terminado escrito por dois escritores que na verdade são a mesma pessoa. Explicado abaixo e abraço

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Prólogo sem véu de alegoria
     Como um velho  Dkw esta história tem um motor de dois tempos que se alternam. Dois tempos e duas pessoas escreveram esse livro. A primeira um jovem autor indisciplinado de 26 anos que acreditava no jornalismo e suas promessas. Dentro delas viveu o glorioso ano de 1985 onde logo após a frustração do Brasil não ter conseguido suas eleições diretas veio o anticlímax das eleições indiretas que elegeram Tancredo Neves, o presidente que foi sem nunca ter sido.
            Substituído por um genérico, o caricato José Sarney, veio então um tempo de agruras. Mas do outro lado da ponte havia a esperança de dias melhores porque ao fim do reinado do pífio presidente maranhense haveria, enfim, eleições livres e diretas. O resto é história e de novo dentro dela o jovem repórter foi envelhecendo e se tornando, mal ou bem, testemunha ocular e auricular do que se passava.
            Assim , trinta nos depois, o repórter se transformou na segunda pessoa que escreveu esse livro. Um autor às portas da terceira idade descrente do jornalismo, mas como o jovem autor um amante, um adorador da literatura. Afinal, seja ela boa ou má, me trouxe até aqui. Dois autores separados pelo tempo criando uma terceira persona que continua desorientada, desidratada de esperanças, mas que crê que a palavra, e só ela, pode reunir tempos e espaços tão distintos dentro de um mesmo coágulo. E, dentro dele, foram tomadas certas liberdades criativas que, algumas vezes, criam uma realidade paralela à que foi realmente vivida sobretudo em 1985 e anos seguintes. E assim o livro se faz .Entre meados dos anos 80 do século XX e um futuro totalmente impreciso e não localizado na linha do tempo.
            O que eu era está aqui. O que eu sou é o produto de eu ter sido. 

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