Os senadores imortais ( do jornalismo)

Quanto mais vejo se perpetuar o triunfo da mediocridade numa profissão que já exerci com gosto reflito que o "coxismo" dos senadores do jornalismo vem de muito longe. Sempre existiu e talvez agora se exacerbe nessa época de panos quentes,conivência e normatização da barbárie. A vassalagem assustadora grassa e eu não acho graça. Por isso replico no meu blog a crônica escrita originalmente para o DOM TOTAL ((CLIQUE AQUI)
Por Ricardo Soares*
O título acima não se refere a maioria daqueles ilustres inúteis que edulcoram a mais alta instância legislativa da República porque apagam-se rapidamente de nossas memórias tão logo sejam extintos seus mandatos e só conseguem alcançar risível imortalidade – como o beletrista Sarney – se ingressarem em outra risível instituição: a Academia Brasileira de Letras.
Os "senadores" aos quais me refiro são outros. O termo "senador", nas internas do combalido jornalismo pátrio, define aquele profissional da chefia que veste sempre o figuro ideológico e estético do patrão e não se furta a executar toda sorte de injustiças para se manter no cargo.
Conheci ao longo da vida profissional toda sorte de "senadores" jornalísticos, alguns inclusive talentosos o que os torna até mais blindados, pois teriam sido guindados aos cargos por competências necessárias ao exercício da profissão, que hoje sequer exige que o sujeito saiba escrever bem. Friso que os senadores talentosos às vezes são mais daninhos que os meramente capachos que subiram na hierarquia da profissão apenas por sempre dizerem sim. Os talentosos às vezes são senhores do seu ofício e sabem apontar com precisão defeitos em subordinados, o que lhes dá a aura de respeitabilidade necessária para comandar quem quer que seja.
Talvez eu esteja falando de épocas e situações quase extintas nesse nosso moribundo jornalismo caboclo, mas, salvo engano, continuo vendo ascender aos píncaros da pífia glória jornalística "senadores" de diferentes gerações, cujo principal atributo é manter as rédeas injustas impostas pelo patrão, emprestando ao ofício uma aura de seriedade. São os senadores ainda os principais teóricos da inexistente imparcialidade de nosso jornalismo.
Perguntaria o leitor: William Bonner é um senador? Bem, prefiro não citar nomes dessa resma de profissionais pretensamente bem equipados, mas diria que Bonner, apesar de ser exemplo bem acabado do almofadismo e puxa-saquismo dos senadores do jornalismo, não parece ter competência e nem lastro para tal mister. Parece mesmo ser um mero capacho das ilusões baratas impostas pela pseudo isenção do jornalismo da Rede Globo.
Os que não são do meio jornalístico tem um rápido meio de detecção de senadores. Basta olhar o organograma dos principais veículos de comunicação do país e – salvo raras exceções – terão uma boa lista de senadores de figurino, gestos, falas, gestuais e opiniões uníssonas. Vencem na vida porque sempre disseram sim.
Evidente que algumas redações do passado foram comandadas por senadores que não eram senadores no sentido de que se colocavam mais ao lado dos colegas – nos embates coletivos com o patronato e os "poderes" constituídos – do que dos seus empregadores. Mas isso é história. Hoje a vassalagem é absoluta, quase total. Pior, as redações são comandadas cada vez mais por ineptos que não conseguem sequer ensinar aos subordinados o que devem fazer.
Conheci e até tive boa relação com muitos senadores jornalísticos no curso de minha carreira. Se não aprendi nada com eles, por outro lado, não lhes tenho rancor. Cada qual que escolha seu papel na vida e na profissão, né mesmo? Se um bom salário – como senadores recebem – compram consciências, corações e mentes que eles durmam em paz.
Faço apenas essa irônica homenagem aos engravatados senadores do jornalismo – que muitas vezes se comportam igualzinho aos senadores do Congresso – porque vejo o padrão se repetir há décadas. Senadores vem e vão, trazem sua trupe, naufragam mesmo bajulando os patrões e são sucedidos por outros senadores. É um moto contínuo. Talvez, por isso, eles se imaginem imortais, mesmo espremidos pelas limitações das gravatas. Mas são até menos que os senadores reais, aqueles de Brasília. Porque, ao contrário deles, é muito improvável que um dia recebam nomes de ruas, passarelas , avenidas e aeroportos. E não contribuíram para a perpetuação do nosso bom jornalismo. Ao contrário. Ano após ano enfiaram fundo a adaga na verdade a pedido dos patrões. A todos os envolvidos, independentemente de vossos talentos, o meu mais profundo desprezo.
Ricardo Soares é jornalista , roteirista, diretor de TV e escritor com 41 anos de janela . Trabalhou em dezenas de redações em funções não senatoriais e quase senatoriais.

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