VEREDAS NO RONCADOR

    

    De repente diante de mim se descortinou a serra do Roncador, o portal , de propriedade do Maurinho, uma certa poeira remota levada pelo vento ralo até o Xingu e umas pedras imensas que não apontavam para um único caminho. Parei o carro, olhei pelo retrovisor, lembrei que meu pai sempre quis conhecer esse chão e que não se cansava de repetir a história de Percy Fawcett e sua expedição que a partir daqui teria se embrenhado pelo inferno e jamais voltado.
            Olho para todos os lados em busca de veredas que me garantem que ainda existem aqui com suas águas frias,transparentes, geladas. Mas o que vejo é um caminhão carregado de soja e uns bois tristes e distantes num pasto a perder de vista. O asfalto reverbera, fico com vontade de sentar em enorme tronco caído mais acima no acostamento mas tenho medo de cobra.
            O caminhão que passou deixa no rastro o som de uma intragável música sertaneja dessas que parecem gritadas por  uma dupla empalada por sabugos de milho e rio de mim mesmo ao pensar como é possível que tantos apreciem esse som dos infernos num país tão lindamente musical como o nosso.  O caminhão leva o som e um barulho esquisito , espécie de silvo que chama lembranças ruins.
            Tusso desde ontem e desconfio que seja tosse alérgica que guaco nenhum há de curar. Mas tenho preguiça de médicos e suas dezenas de exames até ( não) chegarem a um diagnóstico . Fora que aqui parece muito remoto, sem chance de médicos por perto. Alguém disse que não muito longe de onde estou posso tomar tererê e comer um bolo pau a pique mas tô duvidando como sempre duvidei das histórias de meu pai sobre o Fawcett e esse pedaço do Brasil. (segue, segue e segue...quiçá um dia termine)

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