Tarso e Tom no reduto palestino de São Paulo

 





         Tarso e Tom no reduto palestino de Sp
 
 
    Senta que lá vem história. Antes de falar do Tom ( no caso, o Cardoso) quero falar de um dos seus ilustres biografados, o jornalista locomotiva- furacão chamado Tarso de Castro , gaúcho de Passo Fundo e dos mais profícuos e influentes de sua geração e que influenciou fortemente a minha .
        Tarso, um legítimo boca do inferno, à guisa de um Gregório de Matos de outras geografias, morreu pouco antes de fazer 50 anos e hoje, vivo fosse, estaria tiririca aos 82 chutando o traseiro da classe política brazuca e futucando a caretice e burrice nacional que impregna a maior parte de nossa mídia nativa.
        Tarso de Castro é e foi fundamental para que se conheça um pouco do que foi em décadas passadas a nossa imprensa. Aqueles que tiverem interesse em conhecer essa figura devem adquirir celeremente o livro do ( cheguei nele!) Tom Cardoso chamado “Tarso de Castro  75 kg de músculo e fúria” relançado agora pela pequetita pero cumplidora editora Rua do Sabão.
         Os deuses do que resta do Olimpo mofado de nossa imprensa fizeram justiça a Tarso quando concederam ao Tom a tarefa de lhe escrever a biografia. Isso porque tanto biografo quanto biografado tem em comum a veia histriônica que praticamente desapareceu de nossa mídia , seja em que veículo for. Me apontem um engraçado, um bem humorado, um desbocado , um avesso de bom moço que me redimo diante de vocês. Ah, não vale citar o Xico Sá e nem a Barbara Gancia, estilos dispares mas engraçados ou irônicos a seu modo. Além deles, quem temos ? Temos Tom Cardoso.
        Nesses tempos de caretice “neo-liberá” onde se vê comunismo até no cocô das pombas o Tom Cardoso é o mais engraçado e criativo “dialoguista” das mídias sociais e foi por isso que – além da experiência jornalística dele- me aproximei dele que , gentilmente, retribuiu a admiração que sinto por sua verve com afagos ao meu combalido ego profissional.
        Minhas lorotas à parte o livro que Tom fez sobre o Tarso é repleto de histórias bem contadas e de memórias dos tempos bicudos nos quais o jornalista gaúcho fez sua fama, gloria e decadência. Personagens que caminham ao lado do Tarso vão da linda atriz Candice Bergen ( com quem ele teve um romance) até Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom ( agora o Jobim) e grande elenco que não dispensa nenhum dos integrantes originais do lendário “Pasquim” um dos muitos veículos de imprensa que o Tarso ajudou a criar com sua explosão de talento e fúria, o termo que o Tom Cardoso usa como subtítulo do seu livro.
        No que tange a esse escriba que vos fala tenho minhas próprias memórias do Tarso. Primeiro quando acompanhei , ávido por ler e saber,  todas as diatribes do jornalista quando editor do suplemento dominical “Folhetim” da Folha de S. Paulo , jornal para o qual também escreveu uma concorridíssima coluna lida com avidez por milhares de leitores.
        Antes dele navegar pelo Folhetim passou pelos revoltos mares do Pasquim ( que ajudou a fundar e fundear) e depois pelo “Enfim” onde dedicou a primeira página do primeiro número a seu conterrâneo Leonel Brizola ladeado por uma tristonha dona Neuza nos tempos que regressaram do exílio pós 1964.
        No livro do Tom Cardoso é esmiuçado a admiração de Tarso por Brizola além de muitos outros condimentos que tornam a biografia pra lá de apimentada . Tarso não fugia de polêmicas, de amigos e nem de desafetos.  É de uma obviedade gritante que faz uma falta imensa nesse cenário de bundamolismo do jornalismo nacional onde credibilidade é confundida com casmurrice e chatice.
Na falta de noção dos meus 20 anos escrevi uma longa carta para o Tarso e para o Mário Prata que eram os chefes da revista “Careta” editada no começo dos anos 80 pela editora Três. Pedia emprego e tive a manha de enviar alguns textos para a dupla e ( não me lembro se convidado ou não por eles) num começo de tarde fiquei de tocaia na portaria da editora Três para tocaia-los pós almoço. Os dois chegaram trançando as pernas, visivelmente obnubilados, e eu diante daquele tamanhão do Tarso ( que parecia muito maior do que de fato era)  disse meu nome e confessei a autoria dos textos enviados por carta. Para minha surpresa Tarso me lançou um olhar entre o irônico e estupefato e disse  algo como : “Vai embora menino! Aqui nem a gente recebe salário em dia, quanto mais ter algum para pagar você! No mais , na sua idade, você abusa do direito de escrever bem”.
        A partir dessa tarde nunca mais vi ou ouvi Tarso de Castro e demorei muito tempo pra entender que a parte final da fala dele dirigida a mim era na verdade um elogio embora parecesse um esporro. Segui acompanhando as suas aventuras e exageros vida e mídia afora e admirando seu jeito estouvado, seu talento e sua verve. O tempo passou na janela, andaram esquecendo vida , obra e ensinamentos do Tarso até que veio o também endiabrado Tom Cardoso e nos presenteou com a reedição de sua fluida e fluente biografia do enfant terrible de Passo Fundo. Ou seja, depois de encontrar ao vivo e a cores o Tom Cardoso no relançamento do livro no bar reduto dos palestinos em São Paulo ( o sensacional Al Janiah) faltou eu lhe dizer : obrigado parceiro por fazer a gente se reencontrar com o Tarso onde quer que ele esteja nas faixas de Gaza da eternidade. Porque assim como os palestinos essa alma errante bem que merece paz .

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