Onde começa...




Onde começa...


Madrugada, noite alta , sei lá

Já lidei com a casa, já comi de boca aberta

já vi guerras começarem e não cessarem

já rezei pra Nossa Senhora da cabocla Jurema

mas ainda resta tanto problema


Os anos estão me envergando

alguns amigos já morreram

não acertei na loteria

não virei pai de santo

tenho um passado confuso

e um presente recluso

ponho orégano no tomate

vermelho, rubro, escarlate ?

tenho dengos, gotas d'água e cachorros


Madrugada, noite alta, sei lá

evoco contas de luz vencidas,

almas sorridentes, parentes que não conheci

a cidade engoliu os túmulos da família

ninguém mais zela por eles

e assim os esqueço, 

um sabonete derrete no banheiro


Madrugada, noite alta , sei lá

um vaso antigo seca flores

um cheiro de pão torrado invade a cozinha

assim caminha meu apetite

e as palestras tediosas que ouvi


Tanta caneta gasta, tanto ego que se basta

tantos aniversários perdidos

tantas dores de ouvidos

pelos barulhos que poderia evitar


A seca este ano veio mais cedo

a chuva caiu em profusão

o frio foi e voltou

e quem não aprende não ensina

por isso tenho 11 desafetos


Quem me concreta me esquece

o depressivo padece

e a velhice dobra a espinha

tudo penso, nada calo


É madrugada, noite alta , sei lá

estou mais pra lá do que pra cá

poesia é perda de tempo

o tempo ninguém domina

o preço da solidão você sabe onde começa

jamais quando termina


                                        ***

Ricardo Soares- 15-10-2023 



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