A SÉRIE "FIM" É UM RECOMEÇO

 

A SÉRIE FIM É UM RECOMEÇO


    O rolo compressor do mainstream, da indústria cultural, faz com que muitos de  nós dessa diminuta bolha que se julga culta e tem senso crítico  evite “produtos” oferecidos pelas grandes usinas de entretenimento, jornalismo corporativo, a tal grande mídia e quejandos.  

 Isso posto desvio (desviamos) os olhos para as direções de onde pululam as nulidades transformadas em “grandes talentos” sejam no audiovisual , sejam nas nossas combalidas letras e músicas. Os exemplos dessas levas de pseudo importância passam das Angélicas, Xuxas, Mions , Hucks e filho de Faustão a sertanojos, Mc’s dejetos, pagodeiros melosos , pastores midiáticos trevosos, padres com botox e toda sorte de aberrações criadas pelo tal do “mainstream”.

    No entanto, contudo, todavia, existem sim exceções e boas surpresas se pudermos atravessar nossas camadas de preconceitos e conseguirmos espiar o que alguns contemplados no nicho midiático fazem. São exemplos raros, mas existem.

    Lendo a sinopse da recém inaugurada série “ Fim” ,lançada pela Globoplay e baseada no livro homônimo de Fernanda Torres, eu resolvi arriscar e me dei por muito satisfeito. Inclusive por superar meus preconceitos que incluíam a não leitura de Fernanda ( que assina o roteiro da série), uma atriz  acima da média e escritora idem. Li uma vez um teco do livro “Fim”   em uma livraria e já tinha ficado surpreso. Mas, não fui adiante.

    O livro virou uma série de 10 capítulos muito bem dirigidos por Andrucha Waddington que é companheiro de Fernanda há muitos anos. Não se sabe se a sinergia do casal foi decisiva para o bom resultado final , mas tudo leva a crer que sim, além da ótima interpretação da maioria dos atores e atrizes com destaque para o ex-galã Fábio Assumpção e para Marjorie Estiano cuja atuação achei assombrosa tanto quando interpreta Ruth jovem ( a sua personagem) como a Ruth velha. A moça, além de tudo, é uma diva e eu não sabia.

    Uma sinopse tosca poderia resumir que “Fim” trata da trajetória de um grupo de amigos ( na verdade, cinco casais) do fim dos anos 60 até os nossos dias. Mas é muito mais que isso. Revira dores existenciais e de amores com muita competência e uma atmosfera “rodrigueana” e tem locações incríveis em dezenas de pontos manjados e não no Rio de Janeiro. Destaque para o ao mesmo tempo lúgubre e poético cemitério São João Batista em Botafogo para onde são levados a maioria dos personagens de “Fim” que  retrata o fim de um tempo,  o fim da juventude e das ilusões perdidas. Mas é otimista na medida em que nos dá a sensação de que é uma dádiva ainda estarmos vivos fazendo aqui nossos registros de passagem sobre a Terra. Distante do hediondo clichê das telenovelas globais “Fim” é deleite. E um petardo nos nossos preconceitos estéticos.  A estética de “Fim” aponta sim é pra um recomeço. Seja ele qual for.


 

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