Novelinha picaresca sobre a seara das letras

  


( novelinha picaresca sobre a seara das letras)

 

Turritopsos dohrnii é uma minúscula água- viva e ,até onde sabemos , o único animal imortal do mundo. Quase do tamanho da unha de um dedo mindinho, a Turritopsos  reverte o ciclo de vida ao chegar na idade adulta, retornando à juventude em um círculo interminável. Não consta que existam literatos entre a espécie

 

 Capítulo zero, versículo nenhum

 

            Nem precisa ser daqui a uma ruma de anos, pode ser até pouquinho tempo , e a maioria dos escribas que desfilam egos e platitudes achando que o que importa é autopromoção e amigos influentes estará esquecida sob as lajes do cemitério são Paulo, Araçá, São João Batista, Caju e o de Jaboatão fora os que vão preferir a cremação.  Não serão mais lidos e sim esquecidos, mas os olhos compridos fazem com que eles hoje se deleitem achando que a escrita que cometem sobreviverá a cremações e sepultamentos.

            Vocês me desculpem começar o relato com o que pode parecer mórbido , mas mórbida é a vaidade, a megalomania, esse tanto de sobrinhos chatos das palavras, órfãos de uma única tia : a literatura.  A tiazona ora imponente , ora casca dura, ora displicente, ora indiferente, onipresente, manhosa, dengosa.

            Sim , como o poeta Leminski eu escrevo porque preciso. Preciso porque estou tonto . Escrevo e pronto. Esse é o ponto. Mas a malta escreve, no fundo, para fazer amigos e influenciar pessoas, sair nas colunas, comer de graça , virar influencer de internet , descolar umas viagenzinhas e palestrinhas, dar um rolê por programetes culturetes de televisão e, se der, morder um troco dos incautos com cursos de escrita criativa/definitiva/escova progressiva. Fora os intercâmbios internacionais ou as feiras de livros gringas irrelevantes para autores e autoras caboclas.

            Como não tenho nada pra esconder de ninguém vou logo avisando que meu nome é Gugona Cortez, sou hibrida e cheirosa, cheia de verso e prosa , publiquei umas mal traçadas, algumas elogiadas , não vim na vida a passeio e estou obrando montes para quem me achar rancorosa, pastora e fiscal da alta cultura. Nesse tempo de falsos brilhantes e opacos diamantes vim mesmo é pra desafinar o coro dos contentes e inadimplentes e meu patrono é Gregório de Matos Guerra, aquela louca, boca do inferno.

            No país de muito  escritor e escritora e pouca leitura deixa que eu mesmo me coloco uma ferradura não porque seja burra, mas para distribuir coice bem dado, bem colocado. Tem uma lista de gente que eu gostaria de esculachar, tipos e tipas que se levam a sério , mas vou ficar em apenas alguns, que ao fim e ao cabo, representam a categoria dos escribas atuais como um todo. Falo de Pavana, Morgana, Gincana , Caiana e Bacana e vou tentar sintetizar essas ( tristes ? ) figuras em algumas poucas linhas. E mesmo que eu diga que qualquer semelhança com escritores e escritoras vivos ou mortos serão caminhos tortos e não reais vocês não vão acreditar.

( os capitulinhos "Pavana" e o "Morgana" já estão escritos...se interesse houver , mesmo que mínimo , repartirei mais trechos por aqui)

 

            

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