Confissões de um marcador de livros 2

 


CONFISSÕES DE UM MARCADOR DE LIVROS 2

( Bernardo Carvalho, Agnaldo de Assis Nascimento, Adélia Prado)

 

         Vocês já ouviram falar do Agnaldo de Assis Nascimento ? Provavelmente não, né ? Mas, se tem um mínimo de interesse pela literatura brasileira contemporânea, já ouviram falar de Bernardo Carvalho, confere ?  Qual a semelhança entre os dois ? Nenhuma, mas ambos são autores brasileiros da atualidade. O primeiro morreu precocemente , antes dos 35, e deixou um romance muito bom chamado “Horses” , publicado pela pequena editora de Guaratinguetá chamada Penalux. Pouca gente viu, pouca gente leu, quase ninguém comentou. Já Bernardo Carvalho , prolífico e do ramo dos batutas, sempre soube fazer amigos e influenciar pessoas e publicou sempre pela prestigiada e prestigiosa Companhia das Letras. Assim sendo qualquer flato literário do Bernardo sai em todos os cantos que interessam.

         Isso posto gostaria de falar meia dúzia de diatribes sobre o mundeco literário caboclo onde já faz tempo que vale muito mais a arte do marketing ( pessoal e das editoras grandes) do que o  real talento literário do caboclo autor ou da cabocla autora.  Nem passa pela minha desmiolada cabeça criticar o talento do Bernardo Carvalho , até pelo apreço que tenho pelo “Nove Noites” . Mas todos ignorarem a força do “Horses” do Agnaldo é mais uma prova de que não há crítica literária ou resenhista de livros com competência pra tal mister no Brasil. Ou se existem eu francamente desconheço. Isso atesta que resenhistas pidonchos ( clamam nas redes sociais pra receber livros das editoras em suas casas) ou pseudo-críticos são de uma preguiça interestelar quando se trata de peneirar joio do trigo . Separam suas leituras pelas editoras. Os autores publicados pelas pequetitas e cumplidoras são ignorados. Os que publicam por editoras reluzentes recebem a devida atenção. Diria até que se não fossem prêmios recebidos por editoras pequenas muitos dos resenhistas “pedantecos” as ignorariam plenamente.

         Literatura num país que não lê virou  puro marketing atualmente e infelizmente. Lemos cada vez menos e publica-se cada vez mais. Daí ser uma briga de foice no escuro a tal “divulgação literária” que muitas vezes é feita por profissionais que não leram meia dúzia de livros na vida. Acham que eu exagero ? Pois examinem a situação com a lupa da isenção.

         Sim, eu via que você também não se cabia. Era urgentemente direto, inquietantemente silencioso ou repentinamente xamânico. Que sorte a minha ter a sua admiração, se bem que acho ser apenas uma invenção do seu amor. Deu certo: não vamos te largar. Sinto muito, mas você não vai morrer. Vai nos aguentar por muito tempo ainda. Espero que esteja bem agora.” Isso escreveu o  Alexandre Rabelo  sobre a “passagem” do Agnaldo  em 2022.  Um autor que foi sem ser notado e se os deuses do Olimpo literário forem justos um dia  o trarão  para o lugar que ele merece.  É cruel o desconhecimento sobre ele enquanto dândis flanam nas páginas “literárias” com o pseudo  frescor de suas inutilidades.

         Mas é assim . Poderia ter sido assim com Adélia Prado, por exemplo, caso ela não tivesse tido  padrinhos poderosos como Carlos Drummond de Andrade ou Afonso Romano de Sant’anna  ou publicasse por uma editora diminuta . A literatura não é feita de justiças, diga-se de passagem .  Mas desvios do destino fizeram com que Adélia fosse reconhecida em vida ( tem hoje 88 anos) tanto nas suas Minas Gerais como no Brasil apesar do imbecil governador Zema não saber de quem se trata.

         O tema das justiças e injustiças literárias encheria páginas e por certo voltarei a ele. Só quis passar pelo  assunto para defender a teoria de que o que faz um autor e seu talento e só. O resto é penduricalho. Ilusões passageiras que brisas primeiras e derradeiras levarão. Agnaldo,  Bernardo e Adélia são escribas de mãos cheias sendo ou não reconhecidos nessas encarnações/ encardenações.

 

Ricardo Soares , 5/2/24

 

        

Comentários

Postagens mais visitadas