CONFISSÕES DE UM MARCADOR DE LIVROS 6

 




CONFISSÕES DE UM MARCADOR DE LIVROS 6

( bonecão de Olinda, Sintaras, Valêncio Xavier, Campos de Carvalho , Vicente Cecim, Jefferson Tenório)

 

 Vi outro dia- já nem mais com estupefação- que o bonecão de Olinda lançou mais um livro, provavelmente ruim como os outros. No entanto o bonecão, useiro e vezeiro na arte de fazer amigos e influenciar pessoas, conseguiu boas notas de divulgação da sua “nova obra”  em colunas de mexericos e nas menções de pseudo-celebridades. Assim é se nos parece e bem aponta não só o mercado literário (se é que existe) tanto aqui no Brasil como nos EUA , realidade que é bem retratada no recente filmaço “Ficção americana”.

Bonecão faz parte de uma realidade presente em vários países onde autores dão o que o mercado lhes pede conforme o filme “Ficção americana”  mostra inclusive nas palavras da fictícia escritora Sintara na qual encontramos notas,  sabores e ecos da nossa Djamila Ribeiro.

Enquanto os bonecões se multiplicam como ervas daninhas nos tais mercados – ávidos por agradar a crítica inexistente , curadores de Flaps, Fleps e Flips, booktubers iletrados e por aí vai – o espaço para a reflexão, a novidade, a curiosidade intelectual e a inventividade literária vão para o abismo. É  a voga do “vence na vida quem diz sim” onde a qualidade é medida pelos prêmios que aufere o mercado como se isso fosse sinônimo de qualidade literária. Examinem as listas e comprovem. Para cada premiado de verdadeira qualidade há pilhas de autores inócuos bem relacionados e integrantes das  editoras de “renome”. O patético disso é que grande parte das pequenas editoras querem o mesmo quase que mendigando o acesso à confraria dos premiados ao invés de trabalhar de fato por seus muitos autores inventivos. Ou seja, a segunda divisão querendo ser sempre primeira mas não valorizando o elenco que possui .

Isso posto me vêm à mente autores como Valêncio Xavier, Campos de Carvalho, Vicente Cecim e mais uma ruma que foram excelentes no que fizeram mas seguem desconhecidos , soterrados pela ilusão da fama e circunstância  das “celebridades” de festim que pululam por aí em grupelhos e pentelhos.

Sou a favor de toda e qualquer forma de expressão literária , linear ou escalafobética. E prefiro que novos leitores leiam os bonecões da vida do que não leiam nada. E é curioso que a gente reflita sobre esses temas num país onde não se lê nada ou quase nada. Seria desejável se malas como eu ou os que tudo aceitam juntassem forças rumo ao leitor perdido que às vezes só desperta quando livros bons como “ O Avesso da Pele” do Jefferson Tenório são vítimas de censura ,mas, paradoxalmente, por isso mesmo escapam da bolha literária e vendam muito mais . Mais um paradoxo no aluvião de paradoxos  que é essa nossa combalida literatura brasileira atual.

Ricardo Soares  - 11/03/2024

 

 

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