Diário de bordo

 


Diário de bordo


    Hoje, mais cedo, recebi a notícia da morte de um amigo distante, que morava distante. Ontem , casualmente, me encontrei com uma amiga que não via há 30 anos e com quem tive um brevíssimo affair. Esses dias fico sabendo de  uma longa, contínua e impiedosa devastação de uma enorme área verde  aqui na região e que aflige outra amiga, cansada de denunciar em vão o crime ambiental e exausta de ouvir a queda continua das árvores  nos fundos de sua casa e nesse Brasil e nesse mundo de homens gafanhotos que mesmo às portas da extinção seguem no ritmo da destruição.

    Ontem, pela enésima vez, me assombrei com o cada vez mais selvagem jeito de dirigir da maior parte dos paulistanos pelas nossas marginais. Pé lá embaixo no acelerador, velocidade na chuva, nenhum temor de passar por cima do próximo. Ontem , pensei de novo nos amigos à deriva, cansados de guerra, abandonados pelo mercado de trabalho e no bombardeio constante que recebemos de influencers dejetos, sábios da autoajuda, coachs de nulidade.

    Ontem , hoje , ultimamente, está ficando cada vez mais difícil seguir contente com o perdão da rima quase involuntária. Sinceramente não queria uma escrita cheia de assombro e desalento no dia que meu filho faz 36 anos e vive seu aniversário numa Londres quase típica com garoa e friozinho. Aqui onde estou também garoa lá fora e cá dentro de mim.  Sim, todos os dias parecem ser o prenuncio do fim, por isso vinde a mim os cachorros , as crianças que ainda pouco sabem do mundo e um mínimo raio de luz que expanda as nossas fronteiras internas . Se Guimarães Rosa disse um dia que "viver é perigoso" a gente só pode acrescentar agora que viver tá ficando cada dia mais trevoso. E me desculpem qualquer coisa aí .

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