UMA IRMÃ PÁLIDA

                    

BY Frida Kahlo


Irmãos, irmãs, fraternidades partidas, irmandades doloridas  e chega um ponto que a gente sequer se condói de uma irmã pálida de olho arregalado , pelancas pelos braços, dentes estragados , cozida na sua própria solidão e depressão, dando a impressão de que pode morrer de uma hora para outra.

A irmã pálida segue sonhando como na infância, teve amores brutos, alguns não correspondidos , prometeu não fumar mais do que três cigarros por dia e já faz tempo e segue fumando e sonhando no seu vale de lágrimas. Ela brinca de “casinha” na sua cozinha tal qual fazia na distante infância e tenta, em vão, a arte de afinar e adestrar canarinhos que sujam não só as gaiolas , mas também o chão da área de serviço.

Ela quase nunca tem muito apetite , lambisca asas de frango e rabanetes, faz caretas pra tomar o remédio amargo e talvez seja das últimas mulheres de Curitiba que ouve correio sentimental no rádio e não faz uso dos aplicativos de encontros. É uma romântica destrambelhada que toma mingaus e tempera tudo com orégano.

Romântica das antigas, suspira sem chances para o entregador de gás, o carteiro e até o taxista da casa vizinha. Tem saudades de remotos beijos que lhe arrepiavam a nuca e segue tendo muito preconceito contra os gordos da cidade muito embora esteja muito longe de ser magra.

O lugar onde ela mais fica é atrás da cortina encardida da sala perscrutando a vizinha e as desavenças, gritos, choros de crianças, miados de gatos contrariados. Nas tardes cinzas e frias suspira fundo com uma xícara de chá de camomila na mão direita e recorda , com tristeza, que o lugar mais distante onde esteve foi Londrina.

Se chove ela não se arrisca muito na rua e se o faz vai com seu indefectível guarda chuva cor de rosa e com seu “pulôver” de gola olímpica. Se a chuva cai com muita força estranhamente ela vai até o cemitério onde se posta diante daquele velho tumulo quase abandonado onde não deposita flores e sim  saudades junto à memória do ente querido e perdido e quando volta para casa fuma meio maço de cigarros estoura peito.

 

 

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