CAMINHOS E PARCERIAS - miséria pouca é bobagem
Para mim,um dos diretores da série,foi a oportunidade única de bater perna pelo país vendo situações inimagináveis de pobreza e superação, palavra que nem gosto. Fui da reserva ambiental de Superagui (PR) aos sertões nordestinos, mangues e recantos amazônicos passando pela quentíssima e miserável periferia de Montes Claros (MG) onde foram feitos os registros fotográficos acima que ainda hoje relutei em divulgar por temer ser interpretado como sensacionalista.
As fotos analógicas feitas há muitos anos apareceram anteontem entre meus alfarrábios sem que eu tenha ideia de onde estejam os negativos. Retrata parte de uma família que vivia em miséria extrema na periferia de Montes Claros sob torres de alta tensão de energia em barraco de papelão e MDF. A foto mais chocante - essa tive pudor de revelar- mostra esse menino chupando uma pedra para tentar aliviar sua fome. Toda a equipe , sensibilizada com o que viu e capitaneada pela Alessandra Valenti ,ex-produtora da série e querida amiga até hoje,foi em busca de cestas básicas para doar a família citada e outras ao redor. Vale lembrar que nesse episódio retratávamos a atuação da "Pastoral da Fome" e entrevistamos a ainda viva Zilda Arns, idealizadora do projeto.
Desses tempos idos e vividos que estão entre os melhores de minha longa vida profissional resolvi trazer à tona as lembranças por dois motivos: o primeiro ter achado essas fotos . O segundo, infelizmente, por constatar que apesar dos esforços de muitos a realidade da fome e condições mínimas de higiene e saúde seguem em nosso país como constata o assombroso índice de favelização de nossas capitais (a triste liderança é de Belém do Pará, seguida por Manaus) enquanto debatemos platitudes e nos esforçamos para espantar a ameaça dos fascistas que não estão nem aí para a tal miséria efetiva. Afinal vivem e se alimentam da própria miséria espiritual na qual estão imersos.
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