NATAL TÓRRIDO DERRETE NEVE
NATAL TÓRRIDO DERRETE NEVE
Natal,
na província não neva, antes, faz muito sol. O mar soçobra e o tempo voa e,
lembrando Otto Lara Resende, “suspeito que só eu e o rádio estamos funcionando
neste mundo povoado de jovens”. Mas, tanto eu quanto o rádio, envelhecemos e insistimos.
Chegou mais um dezembro e seguimos
falando de inflação, alta do dólar, exigências do “deus mercado”, compras de
fim de ano, congestionamentos, avarias, desamores. Embora tudo pareça igual na
verdade tudo está é diferente.
Eu e muitos não temos mais tempo e nem paciência
para com as emoções baratas, distúrbios intestinais, governadores corruptos e
cultores da violência, policias assassinas, superpopulação mundial que congestiona
todos os cartões postais do planeta fazendo parecer que o Big Ben é logo ali e
a torre Eiffel fica ao fim de uma avenida esburacada de qualquer uma de nossas
cidades.
Brilhantes falsos? Sim, aos montes. Na
política, nas comunicações, nas artes e seus muitos espetáculos. É cada vez
mais difícil discernir entre joio e trigo diante do trabalho de tantos
assessores de marketing e de carreiras que nos vendem, todos os dias, gatos
como sendo lebres.
Eu também já fui jovem e isso foi outro
dia. E você, jovem que porventura me lê, vai ser velho antes mesmo de perceber.
Sim, porque o “nosso mundo”, a contemporaneidade passa depressa e, quando você
vai ver, já foi.
Mando para dentro uma água gelada com
gás logo cedo para tentar me desfazer de um mundo que é cada vez mais pura azia,
mas não quero só destilar pessimismo e apatia. Trocar a noite pelo dia, só crer
na distopia não nos fará melhor. E, convenhamos, sempre um Natal tórrido ajuda
a descongelar a neve que habita dentro da gente.
Ricardo Soares, 18/12/2024 – 9
e 15 min
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