O REI NÃO DESCEU AO TÉRREO

 



O rei não desceu ao térreo

 

         Diante de mim, vestido de Carlitos ,na porta de um trailer ao fundo de onde funcionou um dia a companhia cinematográfica Vera Cruz está ele , o único brasileiro vivo a quem a nação chama de “rei”. Está visivelmente cansado depois da maratona de ensaios para seu especial televisivo de fim de ano e, visivelmente contrariado, me atende pois havia prometido a entrevista para uma revista de entretenimento da finada editora Abril.

         Nos meus ouvidos ainda ressoa o refrão dezenas de vezes repetido nos ensaios : “ quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo”. Foi o ano em que ele lançou a canção “Emoções” que se eternizou . No entanto, naquela noite fria e garoenta , nem eu e nem ele vivíamos um momento lindo. Ele querendo ir embora para o hotel de luxo onde se hospedava e eu querendo pegar a via Anchieta- das curvas da estrada de Santos-  rumo a minha casa sem sentir nenhuma das “emoções” que ele provocou nos seus muitos de carreira.

         Foi uma entrevista curta, protocolar , mas que deu conta do recado. Ele ficou livre de mim, eu livre dele e assim caminhou a humanidade nas idas e vindas do jornalismo que cobria o showbizz naquela época. A nossa conversa, sem grandes novidades, virou capa da revista em sua edição de fim de ano. Não tenho cópia de nada disso. E só lembro de estar perto de Roberto Carlos de novo quando passei mais de uma vez defronte ao prédio em que ele mora no bairro da Urca, Rio de Janeiro. Não apareceu na  janela  para um aceno para mim e  nem para os seus fãs que sempre ficam ali, olhando pra cima. Um ídolo sempre está mais alto do que seus fãs. E é só isso. Acredito que se descesse um pouco aprenderia coisas  que a vida só ensina para quem se nivela aos outros. Adeus Roberto Carlos.

4 de dezembro de 2024- 19 e 09 min, granja Viana

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