Que livros as pessoas têm dentro de si

 

Que livros as pessoas têm dentro de si

        

Entre a pulverização de escritores dentro da minha bolha li outro dia um autor provecto e entusiasmado por terminar de rearrumar  seu cantinho de onde promete criar muitos livros mais. Garante que tem muitos dentro de si. Achei isso formidável na medida em que parece lubrificar sua autoestima como se nos confidenciasse que virão escritos fundamentais para a literatura nativa. Exemplo de autoconfiança e amor próprio, convenhamos.

         Se eu não conhecesse o autor me perguntaria o que aquela figura frágil, meio magricela , grisalha e esbranquiçada poderia ter dentro de si. Como o conheço não me surpreende a sua produção que tem a ver de certa forma com o seu “modus vivendi”.

         Diante do “modelo” acima transponho o raciocínio para muitos autores que não conheço pessoalmente e nem sequer li uma linha deles. Aí questiono, por exemplo, que tipo de literatura produz a escritora de coxas jônicas e colossais ( o que é quase uma redundância) com seus olhos claros, seios voluptuosos e olhar malicioso. Produzirá escritos de fulgor erótico ou o papai e mamãe do estilo que copia Lygia Fagundes Telles, modelo de nove entre dez escritoras brazucas?

         Da coxuda jônica passo para o rebelde de boteco hipster, declamador barato e inflamado que ao menos na aparência tenta se inspirar no modelo Rimbaud- Baudelaire- Wally Salomão.  O que produzirá o poeta que nos pretende legar muitos outros livros de poesia?

         Agora vou para o dândi de “restôs” e churrascarias que com expressões vagas e sensualizantes reúne-se com seus pares achando que a confraria à qual pertence irá abalar alicerces da literatura nacional. O tipo adora lançar livros com títulos dúbios adornados com fotos de sua vasta cabeleira cortada ao estilo príncipe Valente. Dá sono só de olhar a cara do efebo.

         Para não entediar o possível leitor(a) listo só mais uma que é Madame Cinquenta. Essa com seus cabelos escorridos e olheiras fundas passou metade da vida servindo a publicidade (inclusive de si mesma) e casada com um rico do Oriente Médio. Casamento desfeito e filho criado Madame agora se dedica às letras e tem feito amigos e influenciado pessoas e, lógico, já ministra meia dúzia de variantes de oficinas de “escrita criativa”. Promete mais livros para um futuro próximo.

         Diante disso me pergunto : todos esses “criativos” já publicaram e pretendem publicar muito mais. Nunca os li, mas, confesso, antipatizo com todos. Que livros terão dentro de si? Valerão a pena ser publicados ou não terão absolutamente nada para acrescentar e tudo isso não passa de emoções e preconceitos baratos desse escriba que vos fala? 

Ricardo Soares – 24/02/2024- São Carlos         

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