DE CAGAZUELLO A FAUSTO FAWCETT
DE CAGAZUELLO A FAUSTO FAWCETT
Ano
e meio antes de eu nascer Rubem Braga escreveu a lendária e imortal crônica “Ai
te ti, Copacabana!”, ou seja, já é um texto antigo e desde então vem acumulando
imitações e muitos “ais de ti”, sempre renovados.
Recém-chegado do Rio onde não ia há
dois anos e meio (nunca fiquei tanto tempo longe) encontrei muitos mais motivos
para repetir o “Ai de ti”, mas prefiro me ater ao doce balanço a caminho do
mar, a multidão de turistas ávidos por respirar ares cariocas, as garotas e
garotos do morro Babilônia ensaiando novos passos de funk na praia , o chopp
gelado e nem sempre bem tirado, as rodas de samba “pega argentinos” , o mate ,
o biscoito Globo , os estabelecimentos comerciais e “botecais” que abrem e que fecham além do
alto preço do abacaxi, aos fogos que espocam fumacentos na virada do ano, aos
lindos corpos em profusão e mesmo a toda essa confusão concentrada.
No
meio disso tudo, turista nada aprendiz do Rio e (azar meu) procurando sempre
retalhos de bons tempos idos e vividos na cidade eu vou a caça daquilo que de
mais gostei por lá durante a minha sexagenária vida. No meio de um rol de
opções acabo por revisitar alguns mesmo lugares que na verdade não são mais os
mesmos lugares. Um deles é o “Cervantes” ali no começo da Barata Ribeiro que fechou,
passou muito tempo lacrado e reabriu sob nova jurisdição no pós pandemia. A não
ser por sua localização geográfica não é mais o mesmo lugar. Os sanduíches
todos mudaram de tamanho, de pão, de preços (impraticáveis) e se tornaram arremedos
daquilo que foram. Boa parte dos antigos funcionários oriundos do Cervantes abriram em 2021 o tal “Parada de Copa” na
mesma Barata Ribeiro só que no número 450. Levaram o pão e as receitas da
antiga casa, mas não consegui provar porque das vezes em que por lá passei
estava lotado. Na próxima ida não me
escapa.
Mas, o pior não é isso. O pior
aparentemente é a frequência do velho ponto do Cervantes lugar onde fiz amigos
e não influenciei pessoas, local onde proseei várias vezes com outra lenda local,
o compositor e escritor Fausto Fawcett. Agora , nessa ida, peguei no balcão meu
chope e sanduíche de tender com abacaxi mais a saladinha de batata ( essa pelo
menos segue igual, farta e barata) e quando me virei pra degustar no balcão do
lado oposto percebi instantaneamente que ao meu lado estava o Batatinha , o
gato gordinho, personagem histórico dos desenhos e quadrinhos, na pele do
general Cagazuello, ele mesmo, também conhecido como Pazuello ex-ministro da saúde
de hedionda lembrança pandêmica. Percebam como a frequência também mudou. De
Fausto Fawcett a Cagazuello interpretei isso como um sinal para jamais voltar
ao que um dia foi o Cervantes. Ai de ti, Copacabana.
Ricardo Soares, 20 de janeiro de 2025.
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