Jornalismo cultural :Glórias passadas, apreensões futuras
Jornalismo cultural :Glórias passadas, apreensões futuras
Se me exponho agora é com a ciência do
meu diminuto tamanho diante do assunto. Mas, por outro lado, o faço com certo
gosto na medida em que leio não raro depoimentos de sessentões como eu que se
atribuem uma importância que nunca tiveram. Ao menos imagino a esta altura
conhecer o meu devido lugar.
Sem medo de ser impreciso e com receio
de cometer injustiças vou logo avisando que vou citar nomes. Pelo menos os meus nomes. Quando iniciei na profissão
demorei cinco anos até alcançar meu objetivo que era atuar no jornalismo
cultural. A primeira chance real foi pelas mãos de Zuenir Ventura que editor do
Caderno B do Jornal do Brasil lá no Rio de Janeiro botou reparo no jovem
repórter da sucursal paulista que fazia com gosto reportagens culturais desde
São Paulo. Elas agradaram ao já veterano editor que certa feita resolveu mandar
um “telex” ( vejam só, é do tempo do “telex”!) para a minha “chefa” solicitando que eu me encarregasse
exclusivamente a partir dali das reportagens do caderno B em Sp o que não era
pouca coisa para aquela época e para o
jovem jornalista de 24 anos que eu era.
Nada foi como antes. O holofote em
assinar muitas matérias de capa para o extinto “caderno B” me valeram muitos
outros convites profissionais posteriores como tomar parte da equipe fundadora
do “caderno 2” e , indiretamente depois,
ser convidado para redigir e apresentar o programa “Metrópolis” da tv Cultura.
Glórias passadas, apreensões futuras,
tive bem mais do que os meus 15 minutos de fama, entrevistei e reportei sobre
assuntos culturais a valer .Tive a oportunidade de estar perto dos
protagonistas na área durante vários anos. Gente de cinema, teatro, artes
plásticas, visuais e literatura o que me valeu também convites para resenhar
livros para vários veículos como os extintos “Jornal da Tarde” e “Leia Livros”.
Antes de toda essa epopeia aprendi lendo
muita gente boa no segmento e até
invejei alguns deles por terem um espaço que eu não tinha. Poucos deles seguem
na seara até hoje como o Sérgio Augusto. Mas no caminho ficaram- por inúmeros
motivos – profissionais como Isa Cambará, Ligia Sanches, meus amigos Sérgio
Pinto de Almeida e Maria Amélia Rocha Lopes, Pepe Escobar, Paulo Francis, Tarso
de Castro, Nelson Merlin, Jary Cardoso, Nirlando Beirão, Wagner Carelli, Osmar
Freitas Jr., Joaquim Ferreira dos Santos, Artur Xexéo, Artur da Távola, Gilberto
Vasconcellos e poucos outros mais. Dos que vieram um pouco depois de mim guardo
registro dos (ainda na ativa) Jotabê Medeiros e Tom Cardoso.
Toda essa pueril digressão não é para me
abraçar ao meu rancor embora possa parecer. É para constatar o quão ralo,
minguado, aguado e mal escrito é o nosso jornalismo cultural de hoje em dia com
raras exceções cometidas por alguns textos na elitista revista “Piauí”.
Sinto-me muitas vezes como o capitão Ahab,
(do magistral romance “Moby Dick” de Herman Melville) um velho de barba
grisalha , sempre em vigília no convés de um antigo navio para observar um oceano
que agora desconhece. O jornalismo cultural , afinal, é findo ou será que sou
eu que já vou indo ?
Ricardo
Soares, 23 de janeiro de 2025
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