TODOS OS CÔMODOS ESTAVAM OCUPADOS
Antes que eu lhes introduza na história em si faço um adendo existencial. Já não é de hj que começo projetos que não termino. Diz uma amiga que curte astrologia que isso é típico de Gêmeos. Atribuo mais ao fato do desalento literário, a aridez e oportunismo do mercado editorial voltado ao "deus mercado" a quem vende mais chora menos, Enfim, fato é que esse esboço abaixo ( que não está inteiro) foi iniciado há quase dois anos e, digamos, é baseado em fatos reais. Não sou evidentemente o Darcy Maíra , não nasci no Ceará , mas tomei parte na efervescência da poesia marginal do fim dos anos 70. Ou seja, logo abaixo é mais uma tentativa de resgatar os escombros daquilo tudo. Algo que já tentei no meu "Devo a eles um romance" lançado pela Penalux ( por erro meu) em plena pandemia e que passou batidíssimo . Não é uma reclamação, é uma constatação. A mesma que me leva contraditoriamente a ser uma " Tereza Batista cansada de guerra" na lida literária e que , às vezes, resolve, por impulso, jogar mais umas garrafas ao mar. Como essa abaixo. Grato pela atenção tanto você que curte como o que não curte textão.
TODOS OS CÔMODOS ESTAVAM OCUPADOS
Ricardo Soares ( a partir de
29/04/2023)
À memória dos grupos Poetasia, Poeco, Picaré, Pindaíba e Sanguinovo que pintaram e bordaram no fim dos anos 70, começo dos 80, e, depois, simplesmente desapareceram com todos os seus poetas dentro.
Há autores que puxam de dentro da gente
todos os novelos. Autores imãs, autores que nos desenrolam. Para mim um deles é
um autor chileno, de morte precoce, que muito escreveu, mas muito deixou por
ser escrito. Foi por causa dele que descobri, tardiamente, que conheço todos os
poetas, mas nem todos os poetas me conhecem nesses tempos pouco poéticos. Mas,
é bom lembrar, que em tempos idos declamei no alto de viadutos e em carros de
som, na pré-história dos trios elétricos. Declamei
em circos, sítios, chácaras e boates, inferninhos e até em meio a discursos do
Rotary Clube. Declamei em feijoadas e casamentos e, muitas vezes, não só por
isso, fui tido e havido como chato.
Meu nome é Darcy Maíra e estou entre a meia idade e a envelhescência, naquele momento da vida
em que creio já não ser possível colher bons frutos porque começo a cair de
maduro. Nasci
na cidade cearense de Sobral, berço politico de uma dinastia de coronéis
execráveis e pedantes, useiros e vezeiros em serem caloteiros. Também por isso,
incomodado, mudei jovem para São Paulo onde cai no olho do furacão poético do
fim dos anos 70 e me lembro de minha alegria em acompanhar muitos poetas numa
caravana pelo viaduto do Chá onde declamavam, quase possuídos, versos de toda
estirpe diante de olhares indiferentes ou consternados de alguns transeuntes.
Entre esses poetas que conheci nesses
primeiros dias de São Paulo estavam Celso Alencar, Titina, Ulisses Tavares,
Arnaldo Xavier, Touchê, Reca Poletti, Lucia Villares, José Damião de Souza e
Jorge Stark, Luis Avelima, Cláudio Feldman e Raul Christiano, um poeta "certinho" que vinha de Santos. Aliás eles vinham
de todos os cantos e dei sorte de logo ali, na minha chegada, ter cruzado com tantos deles que acabariam por me
acompanharem na maior parte de minha vida adulta.
Se a poesia auxilia há a enxada. E a
enxada não só cava a sepultura. É preciso saber usá-la durante a vida na estiva,
até para tirar entulhos do caminho. Vivi para ver, infelizmente, a poesia ir
perdendo a relevância se é que algum dia teve. Mas naqueles fins de anos 70
parecia ter lá seu espaço bem maior do que o de hoje.
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