Bye Bye Brasil
Bye Bye Brasil
Cacá Diegues. Hoje toda a bolha vai menciona-lo. Paciência , sou mais um. Dizer que foi uma perda grande num país de tanta obviedade é muito pouco. Como tem rezado o senso comum nesse dia de lembranças o Cacá foi mais que um cineasta. Foi de certa forma um pensador que através do cinema ganhou relevância nacional precocemente , antes dos 40, quando já tinha realizado dois dos seus melhores filmes. O sempre lembrado "Bye Bye Brasil" e o sempre esquecido "Chuvas de Verão" que tem a mais bela cena de amor entre idosos interpretados por Jofre Soares e Miriam Pires, finadíssimos.
Justamente a reação de Cacá às péssimas críticas que o "Chuvas" recebeu se transformou , talvez, no maior debate cultural do fim dos anos 70 quando ele cunhou o termo "patrulhas ideológicas" numa entrevista concedida a também finada Pola Vartuck no Estadão. A polêmica que se seguiu mobilizou os meios intelectuais brasileiros e rendeu o livro Patrulhas Ideológicas, de Carlos Alberto M. Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda (Brasiliense, 1980). No livro havia também uma nova entrevista de Cacá, na qual ele definia o tal "modus operandi" das tais patrulhas: "O que existe é um sistema de pressão, abstrato, um sistema de cobrança. É uma tentativa de codificar toda manifestação cultural brasileira. Tudo o que escapa a esta codificação será necessariamente patrulhado".
Impressionante como a definição segue ainda hoje precisa e as atuais patrulhas seguem firmes e fortes rotulando o que é ou não correto como vimos por esses dias com a polêmica envolvendo a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl .
Esse debate ancestral incendiou meu coração juvenil - e de muitos outros colegas - nos corredores da faculdade de jornalismo Cásper Libero e desde então o respeito que eu já tinha pelo Cacá só cresceu apesar dos filmes ruins que ele também fez e a vassalagem diante daquela cristaleira de naftalinas literárias que é a Academia Brasileira de Letras. Evidente que isso que digo também é patrulha como afirmar que é muito triste ouvir no dia da morte dele um tributo radiofônico prestado pelo Merdal , supremo presidente da ABL e nulidade intelectual . Mas, esse é outro capítulo que não merece ser destrinchado aqui nessa modesta homenagem ao Cacá Diegues que eu espero que esteja em paz .
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