MEMENTO MORI
MEMENTO MORI
Lembre-se de que é domingo e que você é
mortal. Lembre-se que a fronha pendurada no varal não é aquela mesma de sua infância
que continha a baba de sonhos inocentes. Lembre-se que não se lavam mais os lençóis
do seu pai e da sua mãe, há muito
partidos.
Lembre-se que as roupas que você agora
usa um dia não mais lhe vestirão, que a manga no pé que ainda está verde em
poucos dias cairá e apodrecerá no chão. Lembre-se que mesmo o ensolarado
domingo de hoje amanhã será apenas e tão somente lembrança nebulosa de um outono
tardio.
Lembre-se que a luz que hoje te serve
será cortada, que a água que você bebe um dia não lhe fará falta, que a paisagem
vista daquela montanha distante um dia vai virar um parque industrial.
Lembre-se, enfim, que tudo que começa
termina, que os calos aparecem, que sua voz se afina. Hoje é domingo, você é
mortal. O resto é prosa. Ilusões que te
vendem, pura glosa.
Ricardo Soares- 9 de março de 2025, domingo
, meio dia
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