AS COISAS NÃO TEM SENTIDO

 


         Ruben Braga e o seu "quintal aéreo"


AS COISAS NÃO TEM SENTIDO

 

“As coisas, em geral, não tem sentido algum”, disse certa feita o Rubem Braga, mestre da crônica. E quem sou eu para contradizer este “fazedor” de belezas textuais, esse fazendeiro do ar suspenso eternamente em nossas lembranças na cobertura de um apartamento cheio de plantas?

Hoje é domingo, não como os de antigamente ou muito antigamente quando meu avô vivia e nos contemplava vez ou outra com um consistente cozido português dominical que vive nas recordações assim como as crônicas do Braga, as narrações futebolísticas do Geraldo José de Almeida, as bolas chutadas contra as paredes e os risos dos nossos mortos, todo impregnados de aperitivos e azeitonas.

Como escriba tenho o defeito (perdoável?) de escrever muito mais sobre o passado do que sobre o futuro incerto, nem sempre aqui perto. Já tentei mudar, mas não consegui. Corre em mim um certo lastro de melancolia lusitana, um desabrochar de ausências que me cercam nos dias de domingo principalmente. Mas, vou em frente. Pensando como o Braga que as coisas na maioria das vezes não tem sentido nenhum.

 O preço do peixe na feira era mais barato antigamente e a variedade que encontrávamos era muito maior. Também  havia o vendedor de biju que batia num tabuleiro anunciando  as suas ofertas  ou o homem de uniforme branco que vendia queijadinhas avisando em altos brados que estava na vizinhança. Havia tanta coisa e não sei se elas faziam sentido. Quando aconteceram acredito que não. Mas, hoje são muito do melhor que carrego na vida.

É domingo , mas não quero ficar só nos tristes e mornos devaneios muito embora eu saiba desde cedo que do mundo nada se leva e as coisas mesmo que findas não fazem em geral sentido algum. Estamos passando, poucos de nós ficando e no fundo, sim, o velho mestre Braga estava certo.

Ricardo Soares, domingo 28 de setembro de 2025


Comentários

Postagens mais visitadas