GILBERTO GIL, LUZ E FAROL

 

         GILBERTO GIL, LUZ E FAROL  

 

Embora ele não precise disso eu gostaria de escrever uma ode, um texto longo para Gilberto Gil. Nada que soasse como “babaovismo” ou puxa-saquismo. Queria devolver , da minha forma, muito do que ele me (nos) deu em termos de ternura, humanismo, dicções e olhares positivos num mundo tão negativo.

         Queria puxar um longo coro dos contentes por ter o privilégio de viver no mesmo tempo que ele e, sorte maior, tê-lo entrevistado algumas vezes. Todos os lugares comuns de doçura e placidez se aplicam ao Gil e eu não vou me arriscar em nenhum deles e muito menos em fazer trocadilhos com as letras e títulos de suas canções embora  ao final desse texto não resistirei.

         Num mundo em guerra, degenerado e desumano, Gil é elixir da paz. Sopra em nosso coração não apenas com suas harmonias e letras, mas com acordes que soam vibração positiva, lance pra qualquer esotérico de quintal dissertar muito a respeito.

         Gostaria de escrever tantas coisas boas sobre Gil ,mas sou incapaz, erva daninha cheia de ressentimento que busca antídoto pra tanto veneno. Vi outro dia ele sentado num imenso palco chorando ao ouvir uma interpretação de Geraldo Azevedo , um dos seus muitos convidados para repartir os holofotes que a vida justamente lhe deu.

Sentado, plácido, chorando, Gil era ali a encarnação da humildade,  (não consegui escapar do clichê) Orixá vivo que contempla com placidez tantas outras entidades , boas e ruins, nesse mundo malvado.

         Imagino ele agora de pé, olhando aquela multidão, não como alguém que a cativa, mas como alguém que é cumplice no milagre da vida que tanto lhe tirou, mas tanto lhe deu também.  Gilberto Gil não sei se vê a multidão com um olhar turvo que poderia ser natural em olhos que tanto choraram e são octogenários. Mas eu gostaria sim de ver como ele nos enxerga lá de cima, sem se sentir por cima.

         E, imperfeito e desafinado que sou, choro por antecipação a sua ausência um dia, muito embora lhe deseje um lindo centenário. Choro por ser egoísta, querendo-o eterno, choro pela incapacidade de defini-lo, choro porque sou diminuto, choro porque ele me consola.   Ou como ele mesmo diria em “Chororô” :"Tenho pena de quem chora / De quem chora tenho dó / Quando o choro de quem chora / Não é choro, é chororô / Quando uma pessoa chora seu choro baixinho / De lágrima a correr pelo cantinho do olhar / Não se pode duvidar / Da razão daquela dor / Não se pode atrapalhar / Sentindo seja o que for".  Vida muito longa ao Gil, luz e farol.  (30/11/2025)

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