AECINHO, O PROVECTO

Ana Paula , velha e querida amiga de Minas Gerais-embora nem ela e nem eu sejamos provectos-foi das que mais me deram força pra que eu tomasse iniciativa de ter um blog. Ela e Dadá Maravilha que tem link aqui nessa página. Pois nem eu nem Ana Paula sendo provectos partilhamos da mesma opinião sobre o governador mineiro Aecinho Neves, provecto de carteirinha. Em 2001 publiquei a crônica abaixo no Jornal da Tarde de São Paulo. Ela fez a alegria da Ana Paula. Naquela ocasião Aecinho não era governador mas já era bastante provecto.Recordar é viver. Aí vai a crônica de novo em homenagem a Ana ... parece que continua atual. Ou será que não ?

Aecinho, o provecto

Dia destes passando os olhos por uma entrevista televisiva de Boris Casoy com o novo presidente da Câmara dos Deputados me certifiquei da impressão que sempre tive em relação ao mineiro Aécio Neves. Aos 40 anos de idade, trata-se de um velho. Aliás, Aecinho, como era chamado nos tempos em que vovô Tancredo estava na crista da onda, já era um velhinho aos 25 anos, quando se abrigava sob as asas do ilustre avô: Aecinho tornou-se conhecido pelo parentesco ilustre e pela pinta de galã de fotonovela que sempre cultivou.

Na flor dos 25 anos, já ostentando com garbo os terninhos horríveis que caracterizam a maioria dos parlamentares, Aecinho compunha seu discurso óbvio, conservador, repetitivo e pseudoconciliador, que viria a dar pistas do que seria o deputado Aécio Neves quarentão, quase um octogenário no que tange ao vocabulário antiquado, redundante e vazio que adota a maioria de nossos políticos.

Aecinho jovem e Aécio quarentão têm ambos a pródiga qualidade de repetir chavões e lugares-comuns com a habilidade de quem está pronunciando frases de frescor incomum.

Ao se referir por exemplo às rebeliões que sacudiram os presídios de São Paulo no domingo, 18 de fevereiro, disse que é preciso "organizar um grande mutirão nacional" para enfrentar a questão da violência urbana. Ah, deputado, não nos diga isso! Não é que ninguém tinha pensado nisso ainda?

De forma explícita, contundente, a ascensão de Aécio representa um sopapo na face de todos os homens e mulheres que nasceram no fim dos anos 50 e começo dos 60 e acreditavam ser possível um representante de nossa geração desenvolver um discurso e abordagem nova ao redor da política. Nada disso!

Aécio com seus maneirismos e mineirismos já empreende veemente discurso de defesa da desgastada instituição que agora preside chegando a dizer que "a Câmara é composta em sua maioria de pessoas de bem". Com certeza vai ter um gigantesco trabalho para nos convencer de que isso é verdade.

Ver Aécio discursar é um desalento. Ver Aécio falar com seu tom monocórdico é um tédio. Ver Aécio pronunciar expressões como "o vigor de minha força" é saber de antemão que já vimos esse filme antes. Os terninhos, palavras, gestos e ações continuarão iguais. E o leitor pode me perguntar afinal: "O que o provecto Aécio tem a ver com um espaço como este - Arte pela Arte?".(ps. era a seção do "Jornal da Tarde onde saía a coluna)Ora, senhoras e senhores, é simples: se a arte, como já disseram muitos, é a manifestação de Deus nos homens, que ela desabe cada vez mais sobre nós nos próximos anos. Pois será preciso muita diversão e arte para aturarmos os anos de reinado de Aecinho, o velho. Já provecto aos 40 anos, ele vai se esmerar para dar o melhor de si. Vai abrir o seu baú de obviedades e comandar a Câmara durante o espetáculo que se prenuncia para a sucessão de 2002. Já a nós todos, quarentões ainda não provectos, nos resta a esperança de que a geração que nos suceda tenha melhores intenções políticas e um vocabulário menos senil.

Ricardo Soares em março de 2001 no "Jornal da Tarde" ... estaria sendo profético ?